Uma coxinha de
galinha, por favor!
Esperava uma amiga. E, como ainda estava sozinha, pedi um
chopp gelado. Nada contra esperar ou ficar sozinha em bar. Mas o amarelinho tem
que me acompanhar. Pra mim, ajuda a distrair e o tempo passa mais gostoso.
Ela sempre fala “vamos no Sat’s”! e eu sempre fico arredia
pra ir pra lá. Sempre tem algum outro compromisso e eu – confesso – evito
aquela redoma. Sim, a gente senta ali e quando vê, ops, três da manhã. É muita
gente boa, é muita gente bonita, é muito papo animado e sempre chega um petisco
de surpresa. Falam do galeto, mas eu fico com o coração de galinha. E, olha, eu
NÂO como coração de galinha – por pena mesmo. Mas ali eu me rendo.
Eu pedi o cardápio só pra olhar o que tinha pra me oferecer. Na verdade, o Sat’s não
precisa de menu. Sempre, invariavelmente, alguém vai aparecer para dar uma
sugestão.
E assim o foi. Quando vejo, Ricardo está em pé na minha
frente. Levei um susto porque não o via há meses. Posso dizer anos? Ele sem
pestanejar deu o palpite dele: “pede o sanduíche de filet mignon com abacaxi”.
Pano preto. Vejam só minha cara.
Eu, na cara, falei: “querido, você tá confundindo com o
vizinho. É o Cervantes que serve isso”.
Pense numa pessoa irônica. Prazer, eu.
Sem nem perguntar, ele se sentou. Graças a Deus, não pediu
uma cerveja. O papo continuou e ele
tentou ser amistoso. Mas, acontece que não consigo. Ser uma mulher centrada,
bem resolvida e discreta não significa aturar tudo. Ricardo ainda me fazia mal,
me trazia lembranças ruins, de uma espécie de homem que devia ser extinta.
Estava no fundo do bar, perto do banheiro. Ali sempre é mais
calmo no fim da noite. Não sei por que escolhi aquele lugar, já que eu gosto de
ver movimento, falar da roupa dos outros, inventar história de vida de quem tá
passando pela calçada e reparar na conversa da mesa ao lado. Mas ali estava,
ali fiquei.
Ricardo ameaçou um discurso de desculpa pelas coisas que
fez, mas muuuito tímido. Ameaçou uma tentativa de “vamos tentar de novo”, mas
muuuito tímido. Tentou a aproximação de corpos , mas, bem, muito, muito tímido.
E eu que sou exatamente o contrário disso, brinco com quem tem esse tipo de
atitude. Quando tô segura, então, ninguém me segura.
Vem uma força interior que me faz subir no salto 15, ter uma
barriga chapada e um cabelo ao vento. Ah, e detalhe: ando até em slow motion só
para humilhar mesmo.
“Bia! Oi, Bia! Que bom que você chegou. Lembra do Ricardo?”
Minha amiga não é tão dissimulada quanto eu, e acabou sendo simpática. Deu dois
beijinhos e me arrastou pra mesa de banco alto do lado de fora. A desculpa
poderia ter sido “quero um cigarro e aqui dentro não dá, né, Juliana? Você não
sabe disso?” Mas não foi.
Bia só olhou pra mim e soltou um sorriso largo e um olhar
cúmplice. “Vamos, Rafael tá te esperando lá na frente”.
Beijo, querido.
Tchau, até a próxima.
Razô! ♥
ResponderExcluirÉ isso ;)
ResponderExcluirDemais!
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