domingo, 29 de novembro de 2015

A tal da falta


A tal da falta

Você faz falta. Faz falta rosas na sala. Faz falta sua respiração. Faz falta seu chegar no portão. Faz falta o barulho da cama ao deitar. Faz falta leite quente pela manhã. Faz falta programar a próxima viagem. Faz falta minha mão nas suas coxas nuas. Faz falta meu corpo no seu. Faz falta beijo no nariz. Faz falta de mandar tomar banho. Faz falta brincar no chuveiro. 

Faz falta minha fala interrompendo a sua. Faz falta meu suor. Faz falta seu cheiro.  Faz falta reclamar da sua mãe. Faz falta cosquinha no pescoço. Faz falta música alta aos domingos. 

Faz falta escolher o cardápio. Faz falta fazer bolo. Faz falta seu quadril.

Faz falta seu sorriso. Faz falta seu cansaço, seu ressoar dormindo, meu acordar atrasado, nosso desespero e anseio pelo fim de mais um dia, você abrir a porta, se jogar cansado e eu reclamar de mais um dia puxado.

Faz falta o futuro. Falta o passado, recorro à angustia do presente e foco na incerteza.

Falta faz o seu espaço, a sua hora, a sua intimidade, o seu “me deixa quieto”. Faz também o seu silêncio, o seu olhar que ora implora trégua ora implora mais um round.

Faz falta seus desejos, o nosso desejo, o meu que se torna o seu num piscar de olhos. E lá estamos, num rompante, sendo um só mais uma vez.

Afinal, falta mais o quê? – eu grito.


Volta – sussurro baixinho.



sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Uma coxinha de galinha, por favor!


Uma coxinha de galinha, por favor!

Esperava uma amiga. E, como ainda estava sozinha, pedi um chopp gelado. Nada contra esperar ou ficar sozinha em bar. Mas o amarelinho tem que me acompanhar. Pra mim, ajuda a distrair e o tempo passa mais gostoso.

Ela sempre fala “vamos no Sat’s”! e eu sempre fico arredia pra ir pra lá. Sempre tem algum outro compromisso e eu – confesso – evito aquela redoma. Sim, a gente senta ali e quando vê, ops, três da manhã. É muita gente boa, é muita gente bonita, é muito papo animado e sempre chega um petisco de surpresa. Falam do galeto, mas eu fico com o coração de galinha. E, olha, eu NÂO como coração de galinha – por pena mesmo. Mas ali eu me rendo.

Eu pedi o cardápio só pra olhar o que  tinha pra me oferecer. Na verdade, o Sat’s não precisa de menu. Sempre, invariavelmente, alguém vai aparecer para dar uma sugestão.

E assim o foi. Quando vejo, Ricardo está em pé na minha frente. Levei um susto porque não o via há meses. Posso dizer anos? Ele sem pestanejar deu o palpite dele: “pede o sanduíche de filet mignon com abacaxi”.

Pano preto. Vejam só minha cara.

Eu, na cara, falei: “querido, você tá confundindo com o vizinho. É o Cervantes que serve isso”.
Pense numa pessoa irônica. Prazer, eu.

Sem nem perguntar, ele se sentou. Graças a Deus, não pediu uma cerveja.  O papo continuou e ele tentou ser amistoso. Mas, acontece que não consigo. Ser uma mulher centrada, bem resolvida e discreta não significa aturar tudo. Ricardo ainda me fazia mal, me trazia lembranças ruins, de uma espécie de homem que devia ser extinta.

Estava no fundo do bar, perto do banheiro. Ali sempre é mais calmo no fim da noite. Não sei por que escolhi aquele lugar, já que eu gosto de ver movimento, falar da roupa dos outros, inventar história de vida de quem tá passando pela calçada e reparar na conversa da mesa ao lado. Mas ali estava, ali fiquei.

Ricardo ameaçou um discurso de desculpa pelas coisas que fez, mas muuuito tímido. Ameaçou uma tentativa de “vamos tentar de novo”, mas muuuito tímido. Tentou a aproximação de corpos , mas, bem, muito, muito tímido. E eu que sou exatamente o contrário disso, brinco com quem tem esse tipo de atitude. Quando tô segura, então, ninguém me segura.

Vem uma força interior que me faz subir no salto 15, ter uma barriga chapada e um cabelo ao vento. Ah, e detalhe: ando até em slow motion só para humilhar mesmo.

“Bia! Oi, Bia! Que bom que você chegou. Lembra do Ricardo?” Minha amiga não é tão dissimulada quanto eu, e acabou sendo simpática. Deu dois beijinhos e me arrastou pra mesa de banco alto do lado de fora. A desculpa poderia ter sido “quero um cigarro e aqui dentro não dá, né, Juliana? Você não sabe disso?” Mas não foi.

Bia só olhou pra mim e soltou um sorriso largo e um olhar cúmplice. “Vamos, Rafael tá te esperando lá na frente”.

Beijo, querido.


Tchau, até a próxima. 



segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Se há amor, resista

 

Se há amor, resista

“Não há amor que resista”. Foi o que ele me disse quando a primeira briga começou. Ok, não foi a primeira, mas a mais séria de todas. Nunca fomos um casal de discutir ou ter que conversar sobre todas as coisas. Alguém sempre cedia.

            Mas desta vez eu que não cedo. Cansei de ceder, me entende? Cansei de me calar. Cansei de pensar que ia passar e tudo ia ficar bem. Cansei de tentar de novo. Cansei de esquecer e ter que passar por cima. Decidi, ergui a cabeça e falei. Não falei muito, por toda a eternidade nem o fiz lembrar-se dos sermões de sua mãe. Mas, sim, falei de forma objetiva. Direta como nunca tinha sido em todos esses anos.

            Ele não retrucou. Não respondeu nem esboçou reação. Ele só saiu. E me deixou sozinha. Essa foi a pior parte, embora, no fundo, tenha gostado. Me senti aliviada por ele ter dado as costas. Afinal, era melhor encerrar por ali. Não sabia onde aquilo iria parar.

            Foi ali que o alivio virou desespero. Ele havia ido.

Balela, pensei.

Respirei fundo e mantive a postura ereta. Por dentro buscava forças enquanto recuperava o ar e procurava as palavras que se afugentaram.

Passou.

Tomei coragem.

E fui a sua procura.

Quando olhei pela fresta da porta – do nosso quarto – o vi deitado com os olhos fixos no teto branco.

Não pensei.

Fui até ele.

Cheguei perto. Encostei. Puxei seu queixo em minha direção. E eu, cúmplice e pecadora, deixei que os meus lábios tocassem nos seus.

Devagar.

Um segundo de olhos abertos. O segundo do perdão. Nos segundos seguintes, só amor.



O Samuel, aquele... da academia!

 

O Samuel, aquele... da academia!

Cheguei agitada e fui correndo pro vestuário pra colocar meu uniforme da saúde: calça legging e top. O dia foi corrido no trabalho e estava precisando de um pouco de endorfina para desestressar. Nada que uma boa corrida para esquecer dos problemas e, depois, um banho frio pra acordar de novo.
Mas, no meio do caminho tinha o Samuel.
Samuel estava lá, todo todo. Me olhava diretamente. Negro. Alto. Cheirando a homem. O suor escorrendo pelo rosto. E que rosto! Samuel é lin-do! E me deixa sem palavras. É, ele me deixa sem graça quando me olha daquele jeito.
Eu passei batida por ele. Meu olhar se perdeu.... olhei pro chão, pro teto... não faço ideia pra onde olhei, mas não foi diretamente pra ele. E Samuel é tão grande que mesmo não olhando nos olhos dele, com certeza eu reparei nos braços e nas pernas saradas já pensando que elas me enrolariam à noite e pesariam na minha lordose depois de uma noite de sexo suado.
Devo ter ficado vermelha. Acho até que ele gosta de me ver assim. Deve achar sexy. Deve achar que pode me encurralar a qualquer momento na academia, acender as luzes que piscam no escuro da sala de spinning e explorar todos os espelhos.
Lá fui eu pra esteira. Foi só eu conectar na minha play list – escolhida a dedo pelo meu amigo gay, o de(quase) todas as horas, sabe? – que Samuel me aparece. Que susto! Ele precisa aparecer logo assim, do nada, do meu lado?
Se inclinou na minha frente e lançou um “oi”. Gelei.
Pela minha timidez, preferiria uma abordagem pelo whatsapp. Mas, ok, estamos aqui; então vamos em frente.
Eu retribuí: “oi”. E ele, direto que só: “vai usar só por meia hora”?
Sem palavras.
Dessa vez, fui eu que inclinei pra frente. Diminuí nossa distância e tirando os fones do ouvido, falei: “desculpa... o quê”?
Samuel manteve o olhar e sem piscar me perguntou novamente se eu iria ficar na esteira por tão pouco tempo. Eu tentei responder, mas ele não me deu chance. A essa hora eu já devia estar roxa, mas, por dentro, era um poço de curiosidade. Era o que me movia. O tesão e a expectativa do que aconteceria.

Não demorou um segundo para irmos para a lanchonete. Eu pedi um suco de laranja com cenoura sem açúcar e ele uma vitamina que não sei nem quantos ingredientes tinham. Quando o pedido chegou, pensei que seria proporcional ao seu tamanho. E, claro, se fazia jus a tudo mesmo!!

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Sobre Viver


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Quando eu digo "não" querendo dizer "sim"




Quando eu digo "não" querendo dizer "sim"

Quando me pego pensando em você me pergunto se entendeu de fato o que eu disse. É justamente nessa hora que te acho burro, limitado, ignorante. Como um homem não percebe que o meu ‘não’ é um ‘vem, me aquece’? Como você, que me conhece como ninguém, não consegue distinguir pelos meus olhos o tempo certo entre o ‘não’ e o pensamento latente do ‘me pega’?
Se fosse ‘não’ não te esperaria com o frio na barriga, não te colocaria a mesa do jantar, muito menos comeria com você. Se fosse como acha não me depilaria, não me vestiria para você, não te fazia gozar. Estaria com a cara virada, indiferente às suas reações, criando desculpas e pedindo conscientemente ‘goza logo’.
Dormiria trancada em mim mesma e sentiria com aflição o peso das suas pernas nas minhas. Reclamaria da sua mania de falar dormindo, reclamaria do banho rápido, reclamaria da conta não paga, reclamaria dos seus horários estranhos de trabalho, reclamaria, reclamaria e reclamaria.
Até o dia em que ‘tudo bem’. Tudo bem se você chegar tarde... ou cedo demais, tudo bem se não for dormir na mesma hora que eu, tudo bem se sair e não perguntar se quero ir.
Não!
Eu tô bem com você aqui.
Não, não vai!
Não, fica!
Não, me agarra!
Não, me beija!
Não, faz assim!
Não é mais.
Não mais.
Não mais planos separados. Não mais rostos e direções tangentes mas distintas, não mais cinema sozinha. Não mais cama fria. Não mais mãos largadas.
Sim, vem!
Sim, tô aqui!
Sim, sou sua!
Sim, me ama!

Que eu sou toda ‘sim’, pro que der e vier, para a vida toda, haja o que houver.



terça-feira, 3 de novembro de 2015

Saudade


Saudade

Foi assim: mandei na lata. Como dizem os meus amigos paulistas, mandei ver!

A mensagem foi simples: “saudade”.

Eu disse a eles que não era preciso ter coragem pra dizer isso. Aliás, eu fui muito sucinta. Eu gostaria de ter escrito muito mais.

Por trás daquele texto, estava toda a minha vontade em dizer que ele faz parte da minha vida desde quando eu levanto até a hora de dormir. E que mesmo assim peço aos guias espirituais que eu sonhe com ele só pra matar o desejo do cheiro e do toque.

Queria dizer que eu sinto o movimento da cama quando é hora dele ir trabalhar. Que quando eu levanto no meio da noite ainda o faço com delicadeza para não lhe acordar. Que eu sussurro um ‘bom dia’, mesmo não o levando até a porta para mais um dia de trabalho. Meu sono é pesado, ele sabe. Mas que por trás da minha tentativa de abrir o olho e naquele resmungar pela manhã está o maior desejo do mundo para que ele seja o destaque no trabalho, o homem mais cobiçado e competente já visto e que ele retorne pra casa cheio de novidades, questionamentos e certezas que iremos descobrir juntos. Ele é um dos melhores para conversar, inclusive. Me indica pontos de vista novos. Está longe de concordar tudo comigo. Confesso: odeio gente que concorda sempre comigo.

Ele sabe concordar nas horas certas.

Foi assim que eu me apaixonei.

E a falta que sinto é ainda maior que seu beijo acalorado, que seu beijo tímido na frente dos familiares, que seu beijo me chamando pra ser sua, que seu beijo me pedindo conselhos e cafunés. Ele é tudo isso. E mais.

É ele que me faz dormir toda noite. É a nossa intimidade que faz meu corpo descansar e ficar totalmente encaixada no dele. É ele que lembra das minhas questões existenciais quando me deixa irritada. É ele que se cala esperando que eu me cale também.

É ele que traz a mim a minha maneira de viver e de ver a vida. Não é por ele, mas sim com ele.

Os meus amigos cariocas diriam, “nossa, branca, mas tu é verdadeira mermo. Ô mulher pra falar tudo que pensa”.


Eu só penso: “aahhh se eu falasse tudo que eu penso”.