Se há amor, resista
“Não há amor que resista”. Foi o que
ele me disse quando a primeira briga começou. Ok, não foi a primeira, mas a
mais séria de todas. Nunca fomos um casal de discutir ou ter que conversar
sobre todas as coisas. Alguém sempre cedia.
Mas desta
vez eu que não cedo. Cansei de ceder, me entende? Cansei de me calar. Cansei de
pensar que ia passar e tudo ia ficar bem. Cansei de tentar de novo. Cansei de
esquecer e ter que passar por cima. Decidi, ergui a cabeça e falei. Não falei
muito, por toda a eternidade nem o fiz lembrar-se dos sermões de sua mãe. Mas,
sim, falei de forma objetiva. Direta como nunca tinha sido em todos esses anos.
Ele não
retrucou. Não respondeu nem esboçou reação. Ele só saiu. E me deixou sozinha.
Essa foi a pior parte, embora, no fundo, tenha gostado. Me senti aliviada por
ele ter dado as costas. Afinal, era melhor encerrar por ali. Não sabia onde
aquilo iria parar.
Foi ali que
o alivio virou desespero. Ele havia ido.
Balela, pensei.
Respirei fundo e mantive a postura
ereta. Por dentro buscava forças enquanto recuperava o ar e procurava as
palavras que se afugentaram.
Passou.
Tomei coragem.
E fui a sua procura.
Quando olhei pela fresta da porta –
do nosso quarto – o vi deitado com os olhos fixos no teto branco.
Não pensei.
Fui até ele.
Cheguei perto. Encostei. Puxei seu
queixo em minha direção. E eu, cúmplice e pecadora, deixei que os meus lábios
tocassem nos seus.
Devagar.
Um segundo de olhos abertos. O
segundo do perdão. Nos segundos seguintes, só amor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário