O dia em que aprendi a beber cachaça está marcado. Numa
esquina movimentada da Tijuca, mais precisamente na General Espirito Santo
Cardoso com a Rua Uruguai. Ali está Toninho e seu Bar do Momo, que entre uma
golada e outra da turma agrada nossos paladares com o que há de bom, muito bom, em
se tratando de comida de boteco. Até o jiló eu já provei lá – e aprovei,
diga-se de passagem.
O começo de noite e a mesa perto do balcão fizeram a
diferença. Meio da semana e todos agindo como sexta fosse. As mesas se apertavam entre o vai-e-vem da cozinha e dos frequentadores. Comecei pela moela – um capítulo
à parte preparado por Paulette (chef do Colarinho Branco, em Nova Iguaçu) - e
adentrei na dobradinha só pra fazer diferente. Esse preparo nunca foi um dos
meus preferidos, mas curiosa que sou dei uma oportunidade. Por surpresa, veio
acompanhada de purê de feijão branco.
Numa mesa próxima, um grupo animado ria e se divertia bebendo,
tcharam, cachaça! Não à toa: cada prato era harmonizado com uma marvada. O povo
era de respeito! Eu é que sou mocinha para destilados. Mas nada que a vida não
faça mudar, não é?
Até que Manoel Agostinho Lima Novo chega a nossa mesa com
uma garrafa e uma disposição para ensinar as duas damas a beberem cachaça. Ele é consultor de cachaças e oferece
palestras, cursos e bate-papos informais sobre o assunto aqui no Brasil e no
exterior – Itália é um dos países que ele já passou graças sua expertise.
Agostinho também é autor do livro ‘Viagem ao Mundo da Cachaça’. Com tudo isso,
ele nos emprestou alguns minutos e as dicas sensoriais para degustar
devidamente a tão falada aguardente.
Vamos lá!
- Limpe bem o copo e bocheche com água antes de qualquer coisa. Impurezas, caiam fora!
- O visual: rodando o copo e deixando que a bebida vá até a borda e lacrimeje, é possível perceber de cara se ela é aguada ou forte. Fique com as que choram devagar, são as mais concentradas e que não levaram dose extra de H2O.
- O cheiro: se for acentuado o cheiro de álcool, convém dispensar. Eu prefiro as amadeiradas. É pá-pum: dá pra saber assim que se chega perto.
- Depois desse ritual é hora de... não, pera. Não se engane. Não vá bebendo assim rápido demais ou dando biquinhos no copo. Vêm mais ritos por aí! Segundo Agostinho, você só está preparado para sentir o gosto verdadeiro da cachaça no terceiro gole.
- No primeiro, passe a bebida por toda a boca, até o céu. O ideal é que ela fique dormente. Ok, foi? Agora engula.
- O segundo passo é respirar fundo e expirar forte e, tão rapidamente, tomar um gole. Quanto mais ágil, melhor.
- O terceiro e último estágio é degustar. Agora sim suas papilas gustativas estão prontas para receber uma bebida tão criteriosa.