terça-feira, 22 de dezembro de 2015

2015, desapega! 2016, ressignifica!


2015, desapega! 2016, ressignifica!

Maria foi dormir pensando em desapegar. Em arrumar seu armário e deixar numa sacola tudo que poderia ser doado ou – o que não servia mexxxmo – jogado fora. Ela não era de juntar lixo, mas cantinhos sempre amontoam um pouco de sujeira, né? E se você não toma uma providência de tempos em tempos, já se sabe.

Minunciosamente ela pensou em como reorganizaria tudo que tinha. Ok, não era muita coisa assim. Primeiro pensou em tipo, depois em cores, depois em tamanhos – saia curta, saia longa, calça e short. Montou uma cena na cabeça e não gostou do que viu. Passou imediatamente às gavetas. Os cabides depois ela resolveria. Quantas gavetas eram e o que deixaria em cada uma.

Beleza, resolvido.

Agora, para de pensar, Maria. Vai dormir que amanhã tem mais.

Boa noite.

Bom dia!

Maria não acordou lá muito disposta, mas encarou o desafio do ano: tirar tuuudoooo do guarda-roupa e desapegar. Começou devagar, em passos leves e cabeça fria. Afinal, não seria tão difícil.

Até que se deparou com aquela blusa comprada para um jantar especial. A noite que usara nem tinha sido tão boa assim, mas ela gostava e muito daquele tom de azul. Pegou no pano macio e sentou na cama. Ensaiou um choro.

Pensou que era bom desapegar para dar espaço para algo novo entrar. Mas ela não queria. Não queria se desfazer. E pronto. Maria tem esse direito. Maria escolheu continuar com a blusa azul petróleo. Resolveu que dali ela não saía, dali ninguém a tirava.

Não ligou para nenhuma amiga pedindo conselhos. Simplesmente o fez.

E com vontade própria. Afinal, Maria pôde decidir!

Passou para os sapatos. E essa foi a fase mais rápida e fácil da arrumação. Nunca foi tão eficiente e decidida a Maria, meu Deus! Até ela se assustou com o feito.

Ficara feliz por ter conseguido se livrar daquela bagunça e estava pronta para entrar no próximo ciclo de arrumação. Que viria outro dia, convenhamos.

Quando terminou tudo, pegou sua blusa azul e colocou para lavar. Havia muito que não usava e estava na hora de ostentar seu brilho por aí!

Alguns poucos minutos depois, Raquel liga para a amiga. Queria sair com Maria.

Maria, cansada, resmungou: “Ai, tô morta”.

Raquel não se fez de rogada e correu para o portão clamando pelo bom papo que as duas tinham.

Ok, Maria cedeu. E lá foram elas.

Raquel de vestido rendado branco – brindando o ano novo que se aproximava.

E Maria de saia envelope e a blusa tão malfadada – combinando elegantemente com os fogos de artifício.

Os sorrisos esperançosos se emaranhavam com os sons estrondosos dos primeiros minutos de 2016. Os suores limpavam o rosto e o champanhe limpava a alma. Dando lugar ao que seria um dos melhores anos de suas vidas.


Digo um dos, porque nunca podemos saber o que de tão bom nos espera. E sim, sempre pode ser incrível!



terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A outra beleza [Resposta ao post anterior]

A outra beleza

É muito interessante quando a gente sofre tentando encontrar a si mesma.

A busca pela autoperfeição é um drama! Tanto sob o aspecto físico, o que, convenhamos, depois dos cinquenta fica apenas no sonho. Mesmo que se faça plástica ou se coloque botox. Aliás, lábios inchados nunca foi sinal de beleza. Aff...

Quanto no íntimo, tanto no pessoal!

Que ilusão será esta que faz com que algumas mulheres, muito mais que os homens, tentem tanto esconder suas idades e não percebem que estas vãs tentativas as fazem ainda mais velhas!!!???

Pode ser que eu esteja errada, mas os monstros que eu tenho visto me fazem gostar ainda mais das minhas rugas.

Mas, eu não quero me repetir falando delas outra vez. Prefiro falar do autoaperfeiçoamento interno, íntimo. Procuro a perfeição que me nutre, que me faz voar, me faz crescer.  Aquela que de fato nos torna mais belos, ainda que as indústrias queiram nos fazer acreditar no contrário.

Não! Não falarei de estéticas visuais! Hoje acordei com vontade de falar da grande necessidade que sinto em me tornar outra pessoa. Hoje quero deixar de lado a neurose de estar fisicamente bem. Quero deixar de lado a busca insana pela eterna juventude.

Hoje eu quero falar de mim. Não do meu corpo, não da minha aparência.

Quero falar do amor que estou aprendendo a sentir, do conhecimento que adquiri nestes 54 anos de vida. Do quanto caminhei  e do quanto ainda preciso e desejo caminhar

Quero falar dessa outra beleza. Da beleza interior. Da única verdadeira, já que sem esta a outra não sobrevive.

A beleza da Alma é a que nos nutre de juventude, de amor, de leveza.

Uma Alma triste num corpo belo? Não quero! É pura ilusão. É impossível que alguém de alma triste revele alguma beleza. Porque a tristeza não é bonita.


Belo é ter a Alma leve, feliz, suave. Por mais que queiramos acreditar que ter um corpo escultural (acho bem ridícula esta expressão) seja o sonho de todas as mulheres, no fundo, nem tão fundo assim, todas nós sabemos que o que queremos mesmo é que sejamos aceitas e amadas apesar da nossa aparência real. 


*** Texto escrito por Helenildes Alcantara, minha mãe, em resposta ao post anterior. ***



quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O Rio num dia de chuva

 

O Rio num dia de chuva

Chovia. E quando chove no Rio de Janeiro é a previsão do caos. No Centro da cidade, então... nem se fala. Aqui as pessoas não sabem andar de guarda-chuva. E de fato é complicado. Você tem que olhar para o chão – acredite, são muitas as poças d’água – pro carro que vai passar não jogar água suja na sua roupa limpa, e, principalmente, para o guarda-chuva da pessoa ao seu lado não bater no seu. A neurose é tanta que eu chego a ficar encolhida, agarrada à minha bolsa e com os ombros curvados e as mãos cruzadas tamanha é a vontade de seguir meu caminho sem surpresas.

Atravessar a rua faz parte desse capítulo “chuva no Centro do Rio”. Eu sempre traço uma reta e uma estratégia. Assim não piso em falso, mantenho a minha calça jeans limpa e  minha boca longe de palavrões.

Pausa. São segundos esperando o sinal fechar.

Que susto!

Porra, olho pro lado e tem um cara embaixo da minha sombrinha.

“Desculpa, posso pegar uma carona aqui”?

Se falei não lembro. Mas fiz que sim com a cabeça. Ia ser bem rapidinho – duas faixas de rolamento e só. Ok, duas indo e duas vindo. Mas, tudo ligeiro. E, além do mais, era gatinho. 
Não ia me custar nada.

Naqueles segundos, parada estava e parada fiquei. Olhei pro outro lado, parecendo preocupada e com pressa. Não queria de modo algum olhar pra ele de novo.

“Eu já te vi por aqui. Você trabalha aqui perto”?

Envergonhada, acho que pronunciei um sim entre os lábios.

Atravessamos.

E nessa eu vi o olhar dele de relance. Os meus continuam tímidos.

“Obrigado. Espero te reencontrar num dia de sol”. E lá se foi ele em direção ao Largo da Carioca.

Eu, quase que acamada na Avenida Paulista fria e distante, esbocei um sorriso de lado e me perguntei “sério, eu ouvi isso”?

Não demorou nem meia hora para que eu guardasse o kit chuva e tirasse o casaco. Afinal, esse é o Rio de Janeiro.

O sol voltou!

Ora, é outono. Faz frio e calor. Muda tanto o tempo quanto o meu estado de espírito. Só sei que meu caminho de volta pra casa foi outro por alguns dias. No claro intuito de não reencontrar o tal cara despojado e desprevenido.

Aquele cara devia estar por ali só naquele dia, resolvendo coisas. Mas por que ele perguntou se eu trabalhava por ali? Não, é mentira. Ele nunca me viu. É papo de homem. Tava querendo chamar minha atenção. Eu fico só sacando caras assim. Ele espera uma alma carente cair na lábia dele e créu. Coisa de cafajeste. Claro, deve ser o pior tipo de homem. Veja só. Quanta simpatia! Com uma desconhecida? Imagina eu casada com ele sabendo que ele fala com qualquer uma na rua? Nunca que ia confiar.

As semanas se passaram, eu esqueci do infortúnio e voltei à rotina. Mesmo caminho, mesmas ruas, mesmo sinal.

“Opa”!

Meu Deus, susto de  novo! Eu ando tão distraída. Como é que pode?

“Oi. Bom te ver. E dessa vez num dia tão bonito. Tanto quanto você”.

Jesus, que cantada barata. Devolve que esse aí veio com defeito.

“sabia que ia te ver de novo. Mas, sério... achei que tivesse sido demitida, sei lá... há muito que não te vejo por aqui”.

Olha ele, gente, puxando assunto pra ver se cola.

“Então.. não quero ais te encontrar por acaso”.

Pausa.

Até que olhando, assim, melhor, esse jeito malandro trabalhador é interessante. Esse olhar oblíquo que me deixa encabulada pode render mais. Tô bem precisando de uma aventura mesmo. Vidinha morna de amor romântico não mantém a gente em pé, não é? Vamos dar uma chance.

“A gente podia combinar um cineminha”.

Ah não. Brochei. Tem coisa mais casal que filme de sessão da tarde? E eu aqui crente que ia viver um começo de paixão avassaladora, um sexo descompromissado. Ah vá.

“Legal! Te pego na terça então”.


Pano preto. 



terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Eu só sei viver

Eu só sei viver

Quando eu tinha uns 14 anos, uma das saídas que fazíamos quando éramos jovens – cinema seguido de lanchinho – uma escolheu beber suco de laranja enquanto todos iam  na Coca. Até aí nada demais. O que me intrigou foi a explicação para algo que na época era usual: “não quero ter celulite”. Na mesma hora, pensei: ih, neurótica! Tão nova e tão preocupada, se poupando de viver, mal sabe ela que estresse faz a gente acumular líquido. 

E quantos não foram os arranca-cabelos que geraram umas covinhas no meu bumbum nos últimos anos?

Minha mãe há uns anos falava aos quatro ventos, “quero ser uma velhinha fofa, querida e amiga dos meus netos, daquelas com cabelo branco que deseduca os filhos da minha filha”. Ok, o tempo passou. E ela? Pinta o cabelo a cada quinze dias. Tricô? Nem pensa. Não saber nem pregar botão. Mas ainda continua com o sonho de pegar seu netinho no colo.

Eu me pergunto de onde vem esse medo de envelhecer. Não que eu ache que seja boa. Muuuuito pelo contrário... deve ser um porre! Imagina as minhas dores na coluna triplicadas? Imagina ser tratada como criança? Imagina demorar horas para fazer alguma coisa que eu fazia em meros minutos?

É inevitável. Taí uma coisa que quero estar viva para ver. Não sei se vou esbanjar saúde, se vou aparentar a idade que tenho, se vou descobrir novas formas de fazer sexo ou se vou rir das mesmas coisas. Sei sim que terei muitas histórias para contar. Porque se há uma coisa que faço bem é viver!