segunda-feira, 18 de julho de 2016

A mania da areia em ficar em mim


A menina já era bem grandinha para estar num carrinho sendo empurrada pela mãe. Ela até já comia o milho verde com as duas mãos e de boca fechada, assim como  manda a etiqueta. E esperava os pais acabarem de brigar enquanto comia. Alheia à cena, olhava o mendigo a menos de três passos e baixava o olhar. A cada mordida uma possibilidade de culpa. A cada mordida uma angústia. Era dela, afinal, e não dele. Eram mãe e pai dela, era o momento dela, o milho dela, o carrinho dela. E dele e para ele o que restava?

Num relance entrei no supermercado. Logo à frente desejei que a menininha mudasse o mundo. Ela já via e sentia tanta coisa mesmo sendo tão pequena.

Na fila do pão, a tristeza me consumiu. Tinha dado espaço para ela se materializar, mas as lágrimas teimam, elas têm as horas delas. A moça atrás de mim resmungava o tempo todo. Pensei que ela, sim, tinha a tristeza morando nela. Quando me virei, vi que não era tão moça assim. E me deu pena. Simplesmente porque o tempo não perdoa. E o dela estava escasso para mudar.

São cinco, por favor.

Obrigada, um bom dia!

O pão da tarde era só mais tarde. Então, decidi aplacar a fome com um suco. Parei num lugar novo – acabara de abrir. Ali funcionava a última locadora de Ipanema. Não tinha verão que o programa pós-praia  não passasse pela Super Vídeo. Sábado era sempre certo: pelo menos três filmes a tiracolo para assistir nos próximos dias.

Peguei o cardápio colorido e fui avisada que deveria ir ao caixa para fazer o pedido. Confesso que já me deu preguiça.

Um grande de abacaxi com coco, por favor.

Sem açúcar.

Recebi um quadrado que vibrava quando o pedido ficasse pronto. Mais preguiça ainda.

Tem a senha do wifi? Qual é, por favor?

Abriu hoje?

Ah... vai até uma da manhã... nossa! O povo da larica vai fazer fila aqui.

Ops, tremeu.

Lá vou eu.

Peguei. Bebi. E lá vai tudo pro lixo.

Para que tanta gente trabalhando se o atendimento é auto?

Se adapta ao american way of life, Juliana!


Cara, na boa, carioquices à parte, o que eu curto mesmo é o Arpoador!



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